quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Diretor da ONS garante que sistema funcionou corretamente

Eduardo Barata, diretor de operações do ONS, a empresa que controla a geração e a transmissão de energia no Brasil, confirma curto-circuito no interior de São Paulo

Bom Dia Brasil – O Inpe diz que não pode precisar se raios caíram na região de Itaberá (SP). Já o governo garante que descargas elétricas naquela cidade provocaram o apagão.

Eduardo Barata – As análises que fizemos em relação ao evento de terça-feira mostram que ocorreram curto-circuitos nos três circuitos que vão da subestação de Vaiporã, no Paraná, a Itaberá, em São Paulo. Nisso não há dúvida porque esses curtos estão apresentados em registros, oscilogramas obtidos em equipamentos altamente confiáveis. Aconteceu o curto. Se foi uma descarga atmosférica que causou, em nenhum momento isso foi posicionado como certeza. A origem do curto-circuito pode ter sido descargas elétricas que haviam na região, ventos que provocam balanço na cadeia de isoladores, permitindo a abertura de arcos entre condutores e a torre ou chuva, que pode fazer um isolador funcionar como condutor. Creio que é possível que condições climáticas adversas na região tenham sido as causadoras do curto-circuito. Em relação ao curto, não há dúvida, porque ele está registrado em documentos que podem ser investigados por qualquer auditoria técnica.

Vários especialistas disseram que o sistema não funcionou como esperado. Podemos esperar novos apagões? Como evitá-los?

Eu diria que do ponto de vista de gestão do sistema, a nossa convicção é que funcionou adequadamente. Os curto-circuitos aconteceram e o sistema de proteção atuou, evitando que o curto tivesse consequências de danificar equipamentos do sistema de transmissão, assim como os esquemas especiais de proteção impediram que houvesse uma propagação para além da região onde estava acontecendo, em São Paulo. Se olharmos a carga que foi interrompida, o grosso foi concentrado na Região Sudeste. Falamos em 18 estados, mas a perturbação no Sul foi de pequena monta e rapidamente sanado, assim como no Norte no Nordeste. Isso se deve ao funcionamento correto dos sistemas especiais de proteção.

O senhor diz que houve funcionamento correto das áreas de isolamento. Mas muita gente de Minas Gerais, Mato Grosso, Bahia não concorda com o senhor, porque não funcionou por lá.

Seria interessante que essa discussão avance e ela seguramente precisa de mais tempo para que se possa explicar com precisão. A população vai compreender o que aconteceu. Os números que poderão ser mostrados mais adiante apontam a diferença entre o que aconteceu no Sudeste e no Norte, no Nordeste, no Sul e no Centro-Oeste. Obviamente, compreendemos, com absoluta certeza, que nenhum consumidor gosta de ser afetado. Nos entristece que isso aconteça. Mas é preciso que se compreenda que um sistema seguro como é o do Brasil tem também alguma vulnerabilidade. O sistema brasileiro é reconhecido mundialmente como seguro, bem gerido e que funciona bem. Os indicadores que dispomos e podemos apresentar, se comparados com países de primeiro mundo – como Estados Unidos, Canadá e países europeus, mostram que o nosso tem desempenho superior. Os estudos que tivemos, como de 1999 e 2001, eventos com características semelhantes ao da terça-feira, e diferentes, como foi observado por Miriam Leitão, tiveram gestão apresentada em fóruns internacionais que confirmam a qualidade da operação e da própria estrutura do sistema elétrico brasileiro. O investimento feito nos últimos anos assegura isso.

Mesmo especialistas que concordam que o sistema é bem montado e com bons mecanismos estavam perplexos com a demora na normalização da energia. Foram sete horas. Em 2002, quando houve um apagão, demorou 40 minutos. Ou seja, o sistema reagiu mais rapidamente. Por que demorou tanto?

Preciso corrigir algumas informações. Em 2002, o tempo de retorno do sistema demorou quatro horas, usando uma metodologia internacional e que nos permite comparar o comportamento do sistema brasileiro com os sistemas estrangeiros. Um evento de grande proporções na Costa Leste dos Estados Unidos, em 2003, teve duração de recomposição de quatro horas para uma interrupção de uma carga duas vezes superior a que tivemos no Brasil. Pouco tempo depois, um distúrbio de sérias proporções na Itália, com carga exatamente da ordem de grandeza da nossa, levou 24 horas para ser recuperada. Os tempos são longos.

No caso de terça-feira, o comentário do presidente de Itaipu, Jorge Samek, de que apenas sete horas depois foi dado o comando, quer dizer que foi dado o comando para colocar todas as máquinas da usina em funcionamento. Não precisávamos de todas as máquinas da usina. Depois de um distúrbio dessa natureza o que acontece é que há uma regressão natural da carga. Não há necessidade de colocar todas as máquinas da usina funcionando.

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