domingo, 14 de junho de 2009

Dom Quixote de La Mancha

Depois da Bíblia, El ingenioso hidalgo don Quijote de la Mancha, romance publicado por Cervantes em 1605, é um dos livros mais traduzidos da literatura universal. Sua segunda parte, lançada em 1615, não respondia apenas ao enorme sucesso: veio desmascarar também a falsa continuação publicada por um impostor, de pseudônimo Alonso Fernández Avellaneda.

Ao escrever o Dom Quixote, Cervantes se propunha ridicularizar os livros de cavalaria, que gozavam de imensa popularidade na época. É o primeiro triunfo de um idealismo sóbrio na literatura ocidental moderna e, por isso mesmo, impressiona pelo pioneirismo de sua feição realista: a paisagem da Mancha, assim como Cervantes a descreve, é até hoje reconhecível na realidade. No todo ou em parte, a obra foi traduzida para mais de sessenta línguas. A ação principal do romance gira em torno das três incursões feitas pelo protagonista por terras da Mancha, de Aragão e de Catalunha. O personagem principal da obra é um louco: um pequeno fidalgo castelhano, que perdeu a razão pela leitura assídua dos romances de cavalaria e pretende imitar seus heróis prediletos. Envolve-se numa série de aventuras, mas suas fantasias são sempre desmentidas pela dura realidade. O efeito é altamente humorístico. O pobre fidalgo chama-se na verdade Alonso Quijano (Quixano), chamado pelos vizinhos de o Bom. Sua loucura começa quando toma por realidades indiscutíveis as façanhas de dois cavaleiros (nada mais que o cura e o barbeiro do lugar), as quais comenta com os amigos. Quijano investe-se dos ideais cavalheirescos de amor, de paz e de justiça, e prepara-se para sair pelo mundo, em luta por tais valores. Escolhe um título para si mesmo, o de Don Quijote de la Mancha, apelida um cavalo velho e descarnado com o nome de Rocinante e elege como dama ideal de seus sentimentos uma simples camponesa a quem dá o nome de Dulcinea del Toboso, suposta dama de alta nobreza. Na primeira série de suas aventuras imaginárias, Dom Quixote fez-se armar cavaleiro pelo proprietário de um albergue, que naturalmente tomou por um imponente castelo. Após breve período de retorno a sua casa, Dom Quixote decidiu voltar à vida de cavaleiro errante que se bate pela justiça. Dessa vez levou consigo seu escudeiro, o pobre camponês Sancho Pança, que se deixara atrair pelas miragens do cavaleiro. A primeira das aventuras de Dom Quixote em companhia de seu escudeiro é o episódio mais célebre de todo o livro: o cavaleiro arremete contra os moinhos de vento que encontra a sua frente, convencido de que são gigantes malfeitores. A imagem clássica de Cervantes tornou-se símbolo de todas as lutas inglórias, puramente subjetivas e sem sentido, assim como passaram a ser qualificados de "quixotescos" tanto os homens que se devotam a proezas mirabolantes e fantasiosos. Todos os acontecimentos em que se envolve Dom Quixote têm um lado real e outro imaginário, sendo o equívoco a base das ações do cavaleiro, que confunde alguns monges beneditinos com feiticeiros diabólicos e uma simples bacia de barbeiro com o elmo rutilante de Mambrino. Assim, a trama do romance se desenvolve em dois planos paralelos: o do imaginário é ao mesmo tempo o plano simbólico da obra, e o realista enfoca a vida cotidiana do povo espanhol. O romance pode pois ser lido como obra realista, que se serve do humor como arma de crítica, e como romance de cavalaria, ou antes, de aventuras, ainda que imaginárias. Paralelamente à trama que se movimenta com os dois heróis, existem também no livro curiosas interpolações, em que se destacam a narrativa "O impertinente curioso" e histórias de amor, descritas realisticamente por Cervantes, que se desenrolam ao lado do amor cavalheiresco de Dom Quixote por sua dama Dulcinea del Toboso. Embora se desenvolva em torno desse contraponto entre o real e o imaginário, o livro possui episódios em que os dois planos se confundem e em que o imaginário se torna, enfim, a própria realidade, como no episódio em que Sancho é nomeado, por zombaria, governador da ilha de Concusión, e desempenha suas funções com tal senso de realismo prático que termina por conquistar a admiração dos próprios zombadores. No retorno à aldeia, quando Dom Quixote, já moribundo, recupera a razão e se transforma de novo no pequeno fidalgo Alonso Quijano, é o próprio Sancho, seu oposto no plano simbólico, quem o anima a partir em busca de novas façanhas heróicas. Conclui-se daí que Cervantes não toma o partido de nenhum dos dois mundos, o da realidade e o da idealidade, deixando em suspenso o símbolo do Quixote.
BibliografiaDOM QUIXOTE DE LA MANCHA por MIGUEL DE CERVANTES.

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